Mark tamborilava os dedos na mesa, fazendo um barulho chato de tec tec tec ecoar pela sala minúscula, com suas duas únicas janelas pequenas muito bem fechadas e o calor trancafiado do lado de dentro. Se o inferno existe, deve ser quente como essa sala e ecoar infinitamente esse tec tec tec maldito.
Mark já havia sido um cara legal. Nós já tínhamos falado sobre alienígenas, sobre invasão à Terra e sobre alienígenas invadindo a Terra. Mark parecia um cara culto por detrás dos cabelos ondulados e compridos, cor de castanho-nada e óculos fundo de garrafa. Andava sempre metido numas roupas velhas, ora justas demais, ora tão largas que pareciam caber dois dele. Ele não parecia um cara que se trancava em casa e ficava fazendo tec tec tec com os dedos na mesa em plena sexta à noite, sabe?
Eu me sinto íntimo do Mark. Quer dizer, não íntimo demais, mas eu já o conheço bastante para salvar seu número na categoria "amigos" do meu celular. Ele também já arrota na minha frente depois de tomar de uma vez só uma garrafa de cerveja, mas eu não tenho certeza de que ele não faria o mesmo na frente de desconhecidos. De qualquer forma, faz pouco tempo que nos conhecemos. Um mês ou dois. Nós moramos juntos nesse cubículo caríssimo porque somos colegas na faculdade e uma pequena caixa de fósforo já custa mais do que nossas almas na capital.
No começo tudo parecia legal, sabe? Ele curte umas músicas boas. Tem pôsters do AC/DC pelo quarto, e até um toca-discos desses antigos. Ele não conhece muitas meninas, nem meninos, mas ele sempre me pareceu gente boa. Nossas conversas sobre ovnis, alienígenas, vikings, dragões e rock clássico ainda permanecem na minha cabeça.
Só que agora ele só faz esse maldito tec tec tec. E reclama da toalha molhada que eu deixo em cima da cama - mesmo que ele não durma na minha cama. Afinal de contas, porque as pessoas se preocupam tanto com coisas que definitivamente não lhes dizem respeito?
Mark é chato pra caralho. Ele arrota alto, bebe cerveja até cair do sofá e está sempre com os cabelos fedendo a cigarro barato. Mark espanta meus amigos. Mark espanta as meninas. Eu desconfio que o Mark nem ao menos saiba o nome de três músicas do AC/DC.
Mas tudo, eu já estou acostumado. Todo mundo é legal e interessante na primeira semana.
O problema é a convivência depois disso.
ai que texto legal! é bem isso mesmo, qd vc convive e vai conhecendo além do encantamento, conhece defeitos etc na real mt coisa se transforma
ResponderExcluirwww.tofucolorido.com.br
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Oi Lívia! Pois é, os primeiros momentos são sempre de idealização, o que fica depois disso nem sempre é tão agradável. rs
Excluirbeijão
É quase como casar kkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirno namoro "fulano era super legal" depois com a convivencia diária que o casamento traz "Fulano" se torna chato pra caramba kkk
texto muito bacana. Acho que o Mark sou eu kkkkkkkk
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Oi Suellen, é verdade! Quando a fase do "encantamento" acaba, o que vem é a verdade - e nem sempre ela é tão boa.
Excluirbeijos
Muito massa o texto! É bom pra refletir a não inventar de morar com alguém que você não conhece direito né...
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Oi Ana! Pode-se levantar essa questão também, mas meu maior interesse era retratar a fase do encantamento quando conhecemos uma pessoa, a imagem idealizada que temos dela e o confronto com a realidade pós-encantamento.
Excluirbeijos
Legal Bruna, Amei o texto!!!
ResponderExcluirOi Gleicy, muito obrigada <3
Excluirbeijos
Adorei o texto. Me definiu geral com a relação com as pessoas.
ResponderExcluirxoxo, Regina K.
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Oi Regina, muito obrigada!
Excluirbeijos
Só o início do texto diz tudo, hein?
ResponderExcluirÉ que nem namoro, no primeiro mês é um mar de rosas. Só que você bem sabe, nem tudo é um mar de rosas.
Beijos,
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Oi Sendy ^^ É verdade, a convivência nos obriga a lidar com pessoas de verdade e não idealizações.
Excluirbeijos
Isso é tão real que chega ser angustiante. Otima cronica!
ResponderExcluirbjs, https://babimorais.wordpress.com/
Oi Bárbara, obrigada ^^
Excluirbeijos
A verdade é que nunca, mesmo convivendo a vida inteira com alguém, conheceremos uma pessoa completamente. E algum dia ela vai nos surpreender com alguma coisa.
ResponderExcluirÉ muito aquela coisa também de julgar pela aparência né.. não conhece, mas se sente apto pra falar sobre qualquer coisa ou pessoa apenas pelo que acha que é...
Muito bom seu texto!
Acho que já disse isso, mas adoro sua escrita! ^^
bjin
http://monevenzel.blogspot.com.br/
Oi Mone, é verdade. A mente das pessoas é complexa demais e a gente se esquece que só conhecemos o que os outros querem mostrar. Muito obrigada! <3
Excluirbeijos
Todo mundo já conheceu um Mark e já foi um "Mark" na vida de outras pessoas. A convivência é importante pra gente conhecer quem gostamos e idolatramos. :)
ResponderExcluirGostei do texto, Bruna! :*
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Oi Mayara, é verdade! Também é importante pra gente enxergar que não tem um lado certo e outro errado, aos olhos do Mark o contador da história também pode ter se revelado um chato.
Excluirmuito obrigada, beijo ^^
Acho muito interessante esse tipo de coisa. Acredito que no inicio queremos impressionar e mostrar um lado legal, bonito e diferente de ser, com o passar do tempo, a convivência se torna tão rotineira e não se tem a necessidade de mostrar só o lado bom, desvestimos a "armadura" e mostramos o nosso lado chato, o nosso eu 100%. O que deve chocar e nos fazer pensar "caraca, não era assim no inicio". O hábito nos torna em pessoas chatas, comuns e pouco impressionantes. E passar muito tempo com alguém deve contribuir com isso, acabamos enjoado daquela rotina de beber até cair do sofá, toalha molhada em cima da cama e afins. Acho que deve ser normal isso acontecer com todos os seres humanos, por maior que seja a afinidade que temos com o outro.
ResponderExcluirBeijo, Amanda | Tô de Short
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